História de CNN Portugal
O Departamento de Educação gerido pelas autoridades russas na região ocupada de Luhansk, no leste da Ucrânia, está a ser acusado de publicar um "catálogo" de crianças ucranianas retiradas e deportadas à força para que sejam adotadas por famílias russas.
A denúncia do "catálogo" de crianças foi feita por Mykola Kuleba, diretor da organização não-governamental Save Ukraine, com recurso a capturas de ecrâ que mostram a recente publicação das forças ocupadoras.
Um exemplo: Alexéi, descrito como uma criança "amável, sociável, [que] interage ativamente com os colegas, trata os adultos com respeito, adora desporto e jogos ativos". Outro: Anguelina, "não agressiva, amável, compassiva, disposta a cumprir com as tarefas -- se assume uma, leva-a até ao fim -- [que] toma a iniciativa para criar um ambiente acolhedor na sala de aula" e que é ainda "muito responsável com a limpeza da sala".
Esta, ressalta Kuleba na rede social X, "não é uma tática nova" da Rússia. "Desde 2014", quando Moscovo anexou a Península da Crimeia, "crianças ucranianas têm aparecido em bancos de dados de adoção russos", denuncia o responsável, que adianta que esta prática se tornou "generalizada e sistemática a partir de 2022", na sequência da invasão em larga escala da Ucrânia.
"A Rússia já nem tenta mais escondê-lo. Órfãos ucranianos são exibidos como produtos numa loja online."
Até ao momento, a Ucrânia conseguiu comprovar a deportação de mais de 19.500 crianças ucranianas pela Rússia, sobre as quais foram coletadas informações detalhadas, nomeadamente o seu local de residência na Ucrânia e sua atual localização geográfica em território russo. Mais de 1.350 foram deportadas, sendo que cada retorno é mediado por um Estado terceiro, como é o caso do Catar, África do Sul e o Vaticano.
O número real de deportações de menores à força, contudo, deverá ser muito superior. De acordo com cálculos do Laboratório de Investigação Humanitária da Universidade de Yale, nos EUA, cerca de 35 mil crianças ucranianas já poderão ter sido deportadas desde o início da guerra.
O think tank Instituto para o Estudo da Guerra (ISW), também sediado nos EUA, diz que o sequestro de crianças tem sido uma das prioridades do Presidente russo, Vladimir Putin, referindo-se às revelações de ativistas ucranianos de direitos humanos.
Segundo documentos do Kremlin a que o ISW teve acesso, datados de 18 de fevereiro de 2022, Moscovo implementou planos para remover crianças ucranianas de orfanatos nas regiões ocupadas de Luhansk e Donetsk e trazê-las para a Rússia sob o pretexto de "evacuações humanitárias".